sexta-feira, 23 de maio de 2014

Análise de um anúncio de revista... Mulheres

Por Graziela Oliveira


DESCRIÇÃO

O anúncio escolhido, intitulado Branca de Neve, faz parte da Campanha conhecida como “Conto de Fadas”, veiculada na revista Veja e desenvolvido pela agência AlmapBBDO para o grupo O Boticário, no ano de 2005.


ANÁLISE PLÁSTICA

É composto por duas páginas, tendo ao centro – levemente deslocado para a direita – a imagem de uma jovem, enquanto pela margem esquerda surge uma mão carregando uma maçã, que parece estar sendo oferecida à modelo.
Ocupado o primeiro plano da imagem, a fruta ganha destaque também por sua cor, brilho e tamanho. É sustentada por uma mão bem cuidada, de pele aparentemente macia e delicada, com unhas pintadas de um vermelho escuro.
Em seguida, nosso olhar é arrastado para a figura feminina ali presente, cujo olhar causa a sensação de que ela está encarando, de forma penetrante, o leitor. Enquadrada frontalmente a modelo veste, possivelmente, um vestido jeans com detalhes em cetim vermelho. Bem apertado, o decote destaca o colo e apela para o poder de sedução, uma vez que faz saltar, aos olhos do leitor, os seios da modelo, sem, com isso, parecer vulgar, pois o modelo “canoa”, bem como o corte da fotografia logo abaixo da linha superior do vestido, permitem visualizar somente sua parte superior. A maquiagem utilizada em seu rosto jovem, de pele branca e aparentemente bem hidratada, é suave, destacada apenas pelo batom vermelho e pelas maçãs do rosto evidenciadas pelo uso do blush. O cabelo negro, longo e liso contrasta com seus olhos azuis e são adornados por uma faixa vermelha.
Atrás da modelo há um fundo que remete ao céu. Tem, na margem superior um tom escuro que vai gradativamente clareando - de um azul esverdeado até alcançar o branco, nos pés das páginas, lembrando nuvens.
Logo acima da maçã, na altura dos olhos da jovem, encontra-se o texto do anúncio escrito na cor branca. Em letras maiúsculas e fonte relativamente pequena (comparado ao tamanho das imagens) tem pouco destaque no anúncio, sendo percebido somente depois do olhar percorrer as duas imagens. Ele traz a mensagem: “Era uma vez uma garota branca como a neve, que causava muita inveja não por ter conhecido sete anões, mas vários morenos de 1,80m”. Um segundo texto, no pé da mesma página, alinhado, pelo centro, com o texto principal, passa quase que despercebido. Este, também escrito em caixa alta, porém na cor azul, é de um tamanho ainda menor e informa: “Mais de 2.300 lojas esperando por você. www.oboticario.com.br I 08000 41 30 11”. E, finalmente, temos, no canto superior esquerdo da segunda página, o logo da empresa e seu slogan “você pode ser o que quiser”.
O anúncio, sem bordas ou margens, parece contrastar em diversos aspectos. Ao mesmo tempo em que temos a uma textura áspera no céu e no jeans do vestido, a pele, cabelos e o próprio cetim nos apresentam o liso. As cores empregadas – azul e vermelho – também causam certa tensão, que, por sua vez, contrasta com a aparente calma da moça.
No que se refere à diagramação, percebemos a fuga do modelo padrão de leitura de imagens, que segue da esquerda para a direita e de cima para baixo. Neste caso, o olhar é primeiramente direcionado para a maçã, que vai para os olhos da modelo, boca, busto, sobe para o cabelo para só então visualizar o texto em branco, o logo e o slogan. O texto informativo é notado somente se o anuncio for contemplado por mais tempo. O olhar, portanto, flui pelas páginas de forma atípica, mas prende o leitor justamente por esta lógica diferenciada.


ANÁLISE ICÔNICA

Os contos de fadas constituem-se como uma importante parcela da Literatura Infantil que, disseminados pelo mundo, corroboram para uma cultura infantil que transcende limites geográficos e étnicos. As conhecidas tramas fazem parte do imaginário de crianças, adolescentes e adultos desde o início do século XVII, quando escritas por Charles Perrault – algumas reeditadas pelos Irmãos Grimm dois séculos mais tarde. Estes contos tem por característica o destaque, a centralidade, de personagens femininos, são elas fadas, princesas, madrinhas, rainhas malvadas e até mesmo bruxas.
A Campanha traz personagens clássicas, explicitamente expostas em seus anúncios, contudo, elas foram reinventadas, estão mais modernas, despojadas e independentes, transparecendo uma aura meio fantástica e surreal, assim como as belas princesas das estórias infantis. Tanto as personagens dos contos quanto as da publicidade exercem certo encantamento. Sua beleza é objeto de desejo de homens e mulheres. E é por atingir desta forma a opinião feminina que o mercado publicitário faz uso desta linguagem.
No anúncio em questão a modelo nos remete à história da Branca de Neve – sua aparência não deixa dúvidas. A personagem da campanha d’O Boticário é encantadora, contudo não aparenta a submissão e a inocência do conto dos Grimm, pelo contrário, seu olhar baixo e penetrante mostra uma mulher decidida, independente. A mão feminina que segura a maçã não necessita de complemento para se fazer entender, representa a rainha má. A maçã aparece com o mesmo significado que nos é comum: símbolo do pecado, da tentação – da madrasta por tentar envenenar a moça e da gula da moça que não resiste à beleza da fruta.
A união das duas imagens – moça e fruta – faz com que comparemos o conto ao anúncio, assim como a princesa à uma mulher comum - que pode se tornar tão bela quanto à personagem, despertando o desejo masculino e a inveja feminina, bastando para isso usarem os produtos da marca anunciada.


ANÁLISE TEXTUAL

O texto serve de apoio à imagem, direcionando o leitor para a linha interpretativa desejada pela agência. Serve de comparação imediata com um conto de fadas ao estabelecer como início a expressão “Era uma vez”, nos transporta à história de Branca de Neve ao afirmar que a garota era ”branca como a neve” e segue comparando ao falar da inveja que dela sentiam, contudo, esta ideia é rompida quando afirma que ela conheceu “vários morenos de 1,80m” ao invés dos sete anões. Fica estabelecida, portanto, uma característica dos homens que conhece, uma vez que os adjetivos moreno e alto (mesmo que este termo não esteja explícito) nos são tidos como sinônimos de beleza masculina. (lembrando da música famosa na década de 1980 que dizia: “Moreno alto, bonito e sensual, talvez eu seja a solução dos seus problemas...”)
Curioso, entretanto, que esta Branca de Neve anunciada não é submissa aos homens. Ela não é escolhida por um príncipe, pelo contrário, é ela quem tem o poder de escolher qual dos “vários morenos de 1,80m” será seu príncipe.
Reforçando a ideia de que uma mulher comum, que tenha acesso aos produtos da marca, possa também ser uma princesa, o slogan “Você pode ser o que quiser” confere ao Boticário e aos seus produtos o status de poção mágica. O texto em azul é meramente informativo, e de pouquíssimo destaque, podendo, muitas vezes, passar despercebido. Entretanto demonstra a facilidade de se encontrar a “Fada Madrinha” em uma das “mais de 2.300 lojas”, pelo site ou pelo telefone disponibilizado.


ANÁLISE DO SIGNIFICADO GLOBAL

Branca de Neve, imortalizada nos livros dos Irmãos Grimm e revivida pelos estúdios da Disney, é a figura dramática, cujo pai casa-se novamente, após o falecimento de sua esposa e mãe da personagem, com uma rainha vaidosa, invejosa e má. A madrasta, que não suporta conviver com a moça, mais bela do que ela, manda matá-la sem sucesso. A jovem foge e encontra sete anões, que vivem na floresta, com quem passa a viver. Neste ambiente, tem sua vida ameaçada novamente pela madrasta até ser, finalmente, salva por um belo príncipe com quem se casa.
No conto dos Irmãos Grimm, Branca de Neve é descrita como a mais bela, esta característica é motivo de apreciação – por parte do caçador que não a mata, dos anões que não a enterram e do príncipe que por ela se apaixona - e inveja – por parte da madrasta (competição de beleza entre uma mulher mais velha e uma mais nova).  Também percebemos como característica a resignação perante vários acontecimentos narrados – não tem coragem de voltar ao castelo no qual morava, não enfrenta a rainha e aceita as condições impostas pelos anões (executar as tarefas domésticas). Além disso, sua pureza e inocência são outros traços marcantes. Sendo assim, vemos em Branca de Neve um padrão de feminilidade ainda cultuado por inúmeras pessoas: admirada e amada por sua beleza enquanto subordinada aos homens e dependente se sua proteção e zelo.
Toda esta descrição dos contos de fadas nos leva a perceber o quanto a beleza é valorizada. Contudo, nas histórias, não é somente o físico que conta, sua índole também é impregnada de generosidade e bondade. Para as princesas do mundo real somente o mito do corpo perfeito tem sido estimado. Cabe destacar que este pensamento é uma construção atual. Antes dos séculos XV e XVI a mulher era considerada um ser maléfico, demoníaco, considerada inferior aos homens. Seu papel social era somente servir ao homem e procriar. Com o advento do Renascimento elas adquirem certo reconhecimento, carregado de lirismo, se aproximam das divindades, ainda que subordinadas aos homens. A mulher atual surge como ser pensante, com direitos e deveres que vão além de sua capacidade reprodutiva. Adquirem legitimidade nos estudos, no trabalho, no direito ao voto, na liberdade sexual.
Sendo assim, percebemos as princesas dos contos como sendo o segundo modelo apresentado: belas, porém resignadas. Enquanto isso, as princesas do século XXI, exaltadas pela publicidade, apresentam as características do terceiro modelo e são a estas mulheres que se pretende alcançar com a campanha.
Historicamente percebemos que os cuidados com a pele e corpo eram privilégios daquelas que não trabalhavam, de famílias abastadas, quadro que mudou radicalmente, pois nos dias de hoje, com a disseminação de informações dos padrões de beleza – uma beleza criada com maquiagem e programas de edição de imagens – a busca pelo ideal feminino tornou-se frenética, indiferentemente do poder financeiro.
Atualmente, independentes e donas de si, as mulheres compreendem uma significativa parcela consumidora graças à ascensão social feminina, resultante de sua entrada no mercado de trabalho. Tornam-se, portanto, alvos de empresas que exploram o infinito universo feminino em sua busca constante por fórmulas mágicas que permitam a elas manterem-se jovens e belas. Seu corpo, assim, é instrumento e mercadoria e a publicidade se apropria destes ideais de beleza tão sonhados criando personagens que exercem o fascínio nas consumidoras, estimulando o desejo de serem tais quais as modelos das campanhas. É desta forma que os anúncios apresentam produtos como sendo “Fadas Madrinhas”, capazes de tornar qualquer mulher em uma princesa única. A beleza é, portanto, sinônimo de persuasão, com o único objetivo de se vender um produto.

De caráter puramente emocional, o anuncio pretende estabelecer um elo entre a instituição e o consumidor, criando uma identidade – a de uma mulher bela, desejada e decidida, independente de quais produtos da marca em questão for fazer uso. Destaca-se a forma como esta modelo se coloca no anuncio – enquadrada do peito para cima – mostrando, com o olhar, a posição de femme fatale, sem a nudez e vulgaridade às quais já estamos acostumados, transportando o leitor para um universo mágico e lúdico.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Dante e o Inferno de "A Divina Comédia"

DANTE – VIDA E OBRA

A literatura do período Medieval apresenta, constantemente, relatos de viagens a outros mundos, empreendidas de diferentes formas: a pé, a cavalo, de barco, normalmente com um guia ajudando o personagem principal a alcançar seus objetivos, trazendo à luz a mentalidade deste homem medievo. O universo era interpretado como um imenso conjunto de símbolos - forma de expressão máxima do homem da Idade Média - a maneira com que ele exteriorizava seus sentimentos.
O principal livro deste período foi a Bíblia, outras produções relacionavam-se aos seus textos ou a interpretações. No contexto medieval, cabe ressaltar que a maior parte da população era analfabeta, tendo acesso as narrativas bíblicas somente através de pinturas, mosaicos e vitrais. A partir do reinado de Carlos Magno esta situação começa a ser modificada através do incentivo às atividades culturais, incluindo educação e literatura. Assim, juntamente com o renascimento urbano e o surgimento de uma burguesia, nasce uma obra que perpassou os tempos, e que permanece, até hoje, atraindo e influenciando a vida de quem a lê. Trata-se de A Divina Comédia, de Dante Alighieri.
A Florença do século XIII era caracterizada pela autonomia política e econômica, pois servia de entreposto comercial, possuía pequenas indústrias e artesanato, berço cultural da Itália. Encontrava-se assolada por brigas políticas entre o Partido dos Guelfos, divididos entre Brancos e Negros e o Partido dos Gibelinos. É neste contexto em que vive Dante, nascido em Florença provavelmente no dia 30 de maio de 1265.
Dante é letrado no convento de Santa Cruz e aprofunda-se em Literatura, Retórica e Filosofia na escola do mestre Bruno Latini. Aos nove anos apaixona-se por Beatriz Portinari, que casa com um banqueiro e morre logo em seguida, em 1290. Dante, embora não esquecendo a imagem de Beatriz casta e beatífica, teve outros amores terrenos e casa-se com Gemma Donati, com quem teve três filhos.
Desenvolve carreira pública e, como político, tenta apaziguar as facções rivais. É autor de uma proposta que expulsa da cidade os homens mais violentos das duas facções. O papa Bonifácio VIII intervém e, com a ajuda de Carlos de Valois, o partido dos Negros assume o poder. Em 1301, os Negros executam sua vingança, saqueando as residências dos Brancos e exilando-os.
De 1302 até 1321, ano de sua morte, Dante, exilado, vaga pela Itália, vivendo de favores, talvez até mesmo de esmola. Ao longo dos dez últimos anos de sua existência - 1310-1321 - escreve a Comédia. O poema, composto com base no simbolismo do número três (número da Santíssima Trindade), possui três partes - Inferno, Purgatório e Paraíso – cada qual dividida em 9 círculos, que totalizam 27 níveis, conta com três personagens principais - Virgílio, personifica a razão, Dante, representa o homem e Beatriz, simboliza a fé. Faz, de certa forma, um “acerto de contas” com seus inimigos, com seus medos e com seu eterno amor, Beatriz.
Não se tem um consenso acerca do título Comédia há quem afirme que se deu por se tratar de uma narrativa que inicia na tristeza e termina com alegria; por utilizar um estilo simples e linguagem vulgar, em oposição à tragédia, escrita em latim; ou por se referir ao sofrimento de nossas vidas, em oposição à alegria e paz do Paraíso, o eterno vislumbre de alcançar a Deus na hora da morte. O adjetivo “divina” é acrescentado posteriormente, talvez por Boccaccio.
Dante se coloca como personagem e escreve em primeira pessoa, representando o homem medievo, em busca de dignidade moral e espiritual, assim como justiça social. Sua narrativa, apresenta em contraste, traços de um homem moderno, que nega seu passado e busca na antiguidade clássica seus referenciais. Os personagens que povoam sua obra são pessoas de seu convívio, personalidades históricas, mitológicas ou políticos de Florença. Em seu poema, mostra a vida e os vícios da sociedade italiana da época, assim como a mentalidade, baseada na cosmovisão medieval, nas concepções filosófica e religiosa.
Se utilizando de alegorias e significados morais, o poeta pretendia escrever uma obra de doutrina e edificação, compreendendo o saber de seu tempo, teológico e filosófico. Nele é apresentada a história da conversão dos homens, que buscam a redenção de seus pecados, para encontrar Deus. Dante afirma em seu poema que não basta, para o homem, dizer que se arrependeu de seus pecados, e sim que é preciso ter fé e ser racional na sociedade do dogma.



INFERNO

“Por mim se vai à cidade das dores; por mim se vai à ininterrupta dor; por mim se vai à gente condenada. Foi justiça que inspirou o meu Autor; fui eleito por Poderes Divinais, Suma sapiência e Supremo Amor. Antes de mim, havia apenas coisas eternas, e eu, perduro. Abandonai toda a esperança, ó vós que entrais!” (DANTE, p. 19)

A Divina Comédia estabelece uma hierarquia dos sete pecados capitais, cujas penas impostas satisfazem a significados simbólicos. O poema fascina pela riqueza de detalhes quase visuais, pelas dualidades bem e mal, pecado e penitência, amor e ódio, perfeitamente harmonizados em um clima tenso e soturno.
A narrativa tem inicio com o poeta perdido em uma “selva medonha”, mostrando claramente como se sente o poeta, homem de meia idade, exilado, passando por um momento de crise pessoal. Depara-se, ao tentar sair desta selva, em busca de luz, com três feras: uma pantera, que possivelmente representa a luxúria ou a cidade de Florença, um leão, a soberba e o orgulho, e uma loba, a avareza ou também pode ser interpretada como a cúria romana. Amedrontado, retorna à escura selva, demonstrando, desta forma, a sucessão de simbologias empregadas ao longo dos cantos, “ilustrando” suas ideias aos leitores.
A obra tem forte apelo político, uma vez que os aliados de Dante são colocados no Purgatório ou Paraíso, enquanto seus desafetos sofrem amargamente no Inferno. O autor evoca questões da vida pública de sua cidade natal, conflitos políticos e familiares, assim como suas questões pessoais, como seu grande amor por Beatriz.
No período em que o livro é escrito começam a serem questionados os abusos de poder da Igreja e seus luxos. Dante aponta estes comportamentos reprováveis da Instituição Católica, no século XIV, que hoje ainda se fazem presentes ao noticiarem escândalos ocultos nos bastidores da Igreja, como os crimes sexuais dos quais alguns membros são acusados. Entretanto, mesmo percebendo tais faltas da Igreja, Dante mantém-se fiel a sua religiosidade e sua fé, colocando Judas sendo mastigado por uma das bocas de Lúcifer, no Nono Círculo do Inferno.
O perfeito delineamento dos cenários aguça a curiosidade em vê-los representados. Ao contrário do imaginário atual, que percebe o inferno como um local extremamente quente, o Inferno de Dante, por vezes é gelado. Desprovido de luz, com furiosos ventos, poços de sangue, vales de dor e sombras, “rios de águas negras”, “cheiros pestilentos”... A descrição que o autor nos apresenta é assustadora e ao mesmo tempo encantadora. Para o homem medieval a luz representa a segurança psicológica, demonstrando, no livro, o intenso conflito entre o bem e o mal, presente na mentalidade do período.
Os personagens que habitam os versos ao extraídos da Antiguidade Clássica, sejam eles personagens históricos ou figuras mitológicas, demonstram o conhecimento e a admiração do poeta por aquele período. Seria por acaso a escolha de Virgílio, poeta grego que escreveu Eneida, admirado por Dante, como guia?
Curioso destacar que no Canto IV, Dante acorda, depois de atravessar o rio Aqueronte, na barca conduzida por Caronte, no Primeiro Círculo do Inferno, onde ficam as almas que viveram uma vida de virtudes, ou seja, não pecaram, porém, por não receberem o batismo. O castigo destas almas é viverem eternamente torturados pelos desejos frustrados. Neste círculo o autor coloca os poetas, filósofos e pensadores gregos – Platão, Sócrates, Virgílio -, que mesmo admirando-os, não pode colocá-los no Paraíso, demonstrando, assim, sua submissão aos princípios cristãos. Chamamos este círculo de Limbo, recentemente exterminado pela Igreja Católica, abrindo caminho para um questionamento fundamental: Para onde foram, portanto, as almas que habitavam o Limbo?
O Canto seguinte traz Minos, filho de Zeus, que após a morte desce ao Inferno, onde se torna juiz dos mortos, avaliando suas culpas e sentenciando-os, enviando para o círculo correspondente. Ele fica na porta do Segundo Círculo, no qual se encontram os luxuriosos, que, segundo Dante, são as “sombras que o amor conduzira à sepultura”. Cleópatra, Helena, Aquiles e Tristão são punidos aqui neste círculo desprovido de luz. Seus espíritos são lançados, incessantemente, de um lado a outro por fortes ventos. Mesmo punindo-os Dante sente por eles certa compaixão, pois, na Idade Média, o sexo era aceitável somente através do matrimônio, para fins de reprodução, ficando qualquer outra prática condenada ao Inferno.
No Terceiro Círculo os gulosos são condenados a ficarem deitados sob forte chuva de granizo, água e neve, tendo por características serem gélidas, escuras, impuras, pesadas e de odor pestilento. Os condenados são aqui vigiados pelo cão Cérbero, que furioso escancarava suas três bocarras e despedaçava, com suas garras aguçadas e seus olhos vermelhos, as almas. Em alguns períodos Medievais a escassez de alimentos fez com que a gula se tornasse um pecado mortal, digno de punição no Inferno.
Os avarentos e os pródigos se encontram no Quarto Círculo, condenados a carregarem pesados fardos e a se chocarem, incessantemente, enquanto gritam uns aos outros “Por que dissipar?” e “Por que gastar?”. Neste círculo Dante coloca alguns papas, cardeais e clérigos, que, desprovidos de identidade, terão as mãos fechadas ao ressuscitar ou quase nada de cabelos. Podemos visualizar estes pesados fardos no filme “Os Fantasmas de Scrooge” (2009), adaptação para o cinema do clássico “Um Conto de Natal”, de Charles Dickens, onde Ebenezer Scrooge - milionário, mesquinho, que só pensa em dinheiro - é avisado por seu falecido sócio, e também avarento, Joseph Marley, que terá o mesmo destino que ele: carregar pesadas correntes para toda a eternidade.
Em pântano de águas negras e ferventes, sombras vagam nuas, cobertas de lodo, flagelando-se com unhas e dentes, pagando pelo pecado da ira. O rio Estige, cujas águas imundas abrolham ondas de suspiros, é atravessado pelos poetas na barca de Flégias, ao percorrerem o Quinto Círculo. Neste círculo o autor pune Filipe Argenti, seu adversário político na cidade de Florença, mergulhado na lama, que tal qual um porco, revolta-se e dilacera-se em feroz loucura.
Passadas as portas da cidade de Dite, cujas muralhas de fogo guardam as esferas mais profundas do Inferno e seus mais graves pecados, penetram no Sexto Círculo, onde os que cometeram heresia e seus seguidores, padecem em túmulos ardentes, que abertos, deixam escapar gemidos e dores dos que ali se encontram. Aqui Dante conversa com Farinata, outro adversário político, pertencente ao Partido dos Gibelinos.
O Sétimo Círculo, reservado aos violentos, é subdividido pelo autor em três partes. No primeiro fosso, estão os ladrões, assassinos, agressores, cujos espíritos permanecem mergulhados em um rio de sangue fervente, uma alusão ao pecado cometido, ou seja, sangue com sangue será punido. São guardadas pelo Minotauro e pelos Centauros, que disparam flechas quando as almas sobem à superfície. No segundo recindo estão os que cometeram violência contra si próprios e contra seus bens. Por rejeitarem o próprio corpo em vida, os suicidas são transformados em árvores, servindo de alimento para as Harpias, que provocam dores e sofrimento. Por entre eles, correm nus, os espíritos dos dissipadores, caçados por negras e ferozes cadelas. Os espíritos do terceiro recinto são os que cometeram violência contra Deus, contra a arte ou natureza, seu castigo é permanecer sob incessante chuva de fogo. Alguns permanecem deitados, outros sentados, enquanto um terceiro grupo caminha sem parar. São os sodomitas, condenados na Idade Média por suas práticas sexuais transgressoras aos princípios cristãos, demonstrando a mentalidade do homem medieval e os paradigmas norteadores da religião católica. Entretanto, este recinto é povoado por alguns clérigos, explicitando o descontentamento do autor em relação à Igreja, pois o exílio imposto a ele deu-se graças à oposição de um papa.
O Oitavo Círculo, também subdividido, é onde pagam os que pecaram pela fraude. Encontram-se neste círculo os simoníacos, que por negociarem relíquias divinas, estão condenados a ficarem de cabeça para baixo, com os pés em fogo. Podemos imaginar quantas pessoas atualmente deveriam povoar este recinto, uma vez que a religião tornou-se um meio de enriquecimento pessoal, não diferindo muito da Idade Média, quando a Igreja fez uso de seu poder dito como divino para ampliar seus recursos? Também neste círculo estão os mágicos e adivinhos, cujas cabeças, voltadas para as costas, permitiam ver somente o que ficou para trás, penitência por tentarem prever o futuro. Os hipócritas, por sua vez, revestiam-se com pesadas túnicas de chumbo dourado – falso dourado representando as mentiras espalhadas em vida. Os falsários, estendidos no chão de um dos dez recintos, padecem cobertos de lepra, um dos piores tormentos do homem medieval, que assola a Europa, inclusive, no período no qual Dante escreve a obra.
No último Círculo do Inferno ficam os traidores. Curioso salientar que este espaço é descrito como frio, coberto de gelo que mais se parece com vidro. Podemos associar isto aos gélidos corações de seus ocupantes, ou ao clima europeu, no qual o frio castiga plantações e difunde a peste. Lá estão encravados no gelo aqueles que traíram pessoas do próprio sangue, amigos, chefes e benfeitores. Lá se encontra Lúcifer, o belo anjo de luz, agora feio. Contava com três rostos, um vermelho, um amarelo e negro como fuligem. Devora em cada uma de suas bocas um traidor, Judas, Brutus e Cassius, considerados, por Dante, os maiores traidores da História, dignos de serem castigados pessoalmente pelo próprio Demônio.
A obra de Dante pode ser interpretada como o simbolismo em busca de Deus, em busca da fé, empreendida por um homem que se encontra nitidamente confuso e desolado. Não há como negar o sentido moralizante que o autor imprime em sua narrativa, suas ideias, baseadas nos princípios cristãos, que levam os leitores a refletirem acerca da vida que escolheram viver. Com isso, alguns questionamentos são impostos, conscientes ou não, como a eterna pergunta da humanidade se há ou não vida após a morte? Se há, como deve ser? Até que ponto nossas atitudes influenciam aquilo que vem depois? Como é, de fato este Lúcifer, que no imaginário de Dante possui três cabeças e nos dias atuais é representado por um homem geralmente elegante e bem vestido? Qual a capacidade de almas deste Inferno, visto que é um local escavado no solo? Há possibilidade de expandi-lo?
De qualquer forma, A Divina Comédia sobrevive ao tempo, seja por seus personagens históricos, seja pela criatividade empregada na narrativa. Continua exercendo profundas influências em pintores, poetas, músicos e cineastas, atraindo adultos e crianças.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia. Tradução de Fábio M. Alberti. Porto Alegre, RS: L&PM, 2006, 334p.
FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média: Nascimento do Ocidente. 2ed., São Paulo, SP: Brasiliense, 2006, 201p.
Site: Cola da Web. Disponível em: http://www.coladaweb.com/resumos/a-divina-comedia-dante-alighieri Acessado em: 24/04/2011.
Site: Wikipédia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dante_Alighieri Acessado em: 24/04/2011.
Site: Netsaber. Disponível em: http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_1851.html Acessado em: 24/04/2011.
Site: Portal São Francisco. Disponível em: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/dante-alighieri/dante-alighieri.php Acessado em: 24/04/2011.

Direção: Robert Zemeckis. Os Fantasmas de Scrooge. Título original: (A Christmas Carol). EUA, 2009, 96 min, Animação.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Conhecimento Científico x Senso Comum

Não há dúvidas quanto ao progresso trazido pelas descobertas científicas em inúmeros campos, mas, assim como alguns autores de textos lidos acerca do assunto, fico me perguntando: a que preço?
Outras dúvidas ficam a pairar quando tento aprofundar o assunto: os cientistas observam passivamente seus objetos de estudo ou veem de acordo com seus interesses? Existe neutralidade nas pesquisas ou elas são marcadas pela política e economia? De que modo as descobertas científicas possibilitam à humanidade melhor capacidade de decisão frente aos problemas cotidianos? E quanto ao fato dos cientistas terem se tornado os grandes mitos de nossa sociedade? Que perigo isso representa? Se eles são os seres pensantes deste século, isso exclui o restante da sociedade (os não-cientistas) de pensar?
As reflexões que me proponho a fazer ao ler o texto são as que todos deveriam fazer - questionar as máximas impostas. Raramente isso acontece. Aceitamos e nos subordinamos ao que a ciência nos impõe, acreditando fielmente que aquilo está correto, já que os cientistas são pessoas com um alto grau de conhecimento acerca do objeto estudado.
O fato dos cientistas terem se transformado em mitos é algo perigoso, uma vez que isso induz o comportamento e inibe o pensamento. As inúmeras especializações não fazem com que as diversas ciências caminhem juntas, pelo contrário, cada especialista fica "cego" para as áreas que lhe são desconhecidas. Comparo isso à lente de uma câmera fotográfica, quanto maior o zoom que usamos menor é o ângulo de visão que temos.

Outras questões que surgiram com as leituras... Se o conhecimento científico se propõe a resolver problemas comuns aos homens, porque este conhecimento não serve, de fato, para todos os homens? Faço esta crítica, pensando na relação entre ciência e sociedade, assim como nos problemas que impedem uma relação amigável entre estes dois campos. A ciência, com sua linguagem própria, exige níveis de formações escolar elevados para sua compreensão, ficando a maioria dos indivíduos marginalizados do saber científico, propriedade de poucos grupos sociais - apenas com condições financeiras de adquiri-lo. Também muito do que se procurou - e procura - desenvolver no campo científico serve aos interesses particulares ou de grupos sociais, garantindo-lhes maiores poderes frente às minorias.

O que faz o brasil, Brasil? - Resenha


MATTA, Roberto Da. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro – RJ: Rocco, 1986. 126p.

Roberto Augusto da Matta, antropólogo, tem como foco de seus estudos a sociedade brasileira. Apresenta em suas publicações a complexidade característica desta nação. Foi professor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde foi chefe do Departamento de Antropologia e professor na Universidade de Notre Dame (EUA), onde também lecionou antropologia. Entre suas publicações podem ser citadas Carnavais, malandros e heróis - 1979, Relativizando: uma introdução à antropologia social - 1981, Crônicas da vida e da morte – 2009, entre diversos outros livros e artigos, publicados no Brasil e exterior.

No livro O que faz o brasil, Brasil? Roberto da Matta aborda a questão referente à identidade nacional brasileira, fornecendo instrumentos que colaboram na busca por explicações das relações sociais e culturais existentes, lançando mão de conceitos como os de casa, rua e trabalho, suas relações e reverberações no cotidiano nacional. Proporcionando, como ele mesmo cita em seus escritos, “uma visão da sociedade aberta e relativizada pela comparação”.
No primeiro capítulo, intitulado O que faz o brasil, Brasil? - A questão da identidade, o autor nos apresenta a ideia de dois “brasis” – o brasil, com “B” minúsculo, simboliza o país explorado, enquanto o Brasil, com “B” maiúsculo, representa a nação, seu povo e seu conjunto de valores e ideias. Trata do conceito de identidade, explicando que não basta saber quem somos, e sim, descobrir como são construídas nossas identidades individuais e de que forma isso colabora na construção de uma identidade social nacional. Afirma que nosso posicionamento diante de determinadas situações é o que caracteriza nossa cultura, ao mesmo tempo em que a sociedade guia nossas escolhas. O autor apresenta duas formas de se construir à identidade social moderna, a primeira, de modo quantitativo, onde somos analisados pelo coletivo dentro de um eixo político-econômico; a segunda, qualitativa, uma abordagem mais sensível onde são valorizados aspectos do cotidiano. Por fim, aponta que para compreendermos a complexidade social brasileira é preciso que a analisemos sempre por dois vieses, uma vez que temos a incrível capacidade de agregar e misturar aquilo que é oposto, criando algo único, singular, sem haver a discussão das implicações sociológicas destas miscelâneas.
No capítulo A casa, a rua e o trabalho, Da Matta aponta a evidente divisão entre espaços sociais fundamentais, que rompem a vida social. A casa indica o local com valores morais, “onde nos realizamos basicamente como seres humanos”, no qual “temos um lugar singular numa teia de relações marcadas por muitas dimensões sociais importantes”, entre elas o sexo e a idade. É o espaço de convívio profundo e harmônico, cujo tempo é cíclico. A rua, por sua vez, é o mundo exterior, caracterizada pela competição, pelo anonimato e cujo tempo é marcado pelo relógio. Ambos “são modos de ler e explicar e falar o mundo”, são opostos, entretanto um complementa o outro. A rua também é a mediadora do trabalho, que em nossa sociedade é interpretado como castigo. O autor aponta esta ideia de trabalho como uma herança de nosso sistema escravocrata. Finaliza o capítulo enfatizando as diferenças e semelhanças entre os espaços nos quais “circulamos na nossa sociabilidade”.
As ilusões das relações raciais é o assunto abordado no terceiro capítulo. Partindo de uma citação de Antonil, no século XVIII, o autor lança mão da comparação entre o racismo brasileiro, contextualizado, e o americano, direto e formal, caindo no mito da democracia racial e descontruindo-o, afirmando que nosso preconceito não está apenas na cor da pele, e sim no “status” social.
No capítulo Sobre comidas e mulheres, o autor trabalha o código da comida e seus desdobramentos morais, situando a mulher no meio social. Cita Lévi-Strauss – O Cru e o Cozido – onde o cru seria o que está fora da casa, o que é cruel, duro, isolado, enquanto o cozido é social e permite misturas. Aborda a diferença entre alimento, que mantém a pessoa viva, e comida, que pode ser ingerido com prazer. Ele afirma que a comida define não só as pessoas como também as relações que elas mantém. Relaciona o ato sexual ao ato de “comer”, indicando que nós, brasileiros, percebemos a sexualidade não pelo encontro de opostos, e sim pela absorção, hierarquizando – comedor e comido.
Carnaval, ou o mundo como teatro e prazer é o capítulo que apresenta os acontecimentos extraordinários, que alteram a rotina diária, mostrando o carnaval como uma festa na qual não há hierarquias, sinônimo de alegria e prazer, com data marcada para acontecer. O autor indica que estas festas são uma inversão do mundo, pois permitem a troca de uniformes por fantasias, permitindo a troca de posições, libertando das hierarquias.
Em As festas da ordem o autor faz a comparação entre o carnaval e as comemorações formais, onde a ordem social deve ser mantida e afirmada, através de comportamentos contidos, controle do corpo, sacrifícios e disciplina. Segundo Da Matta o foco está nas autoridades, revelando e ampliando as diferenças sociais existentes, ficando inadmissíveis as trocas de papéis, exceto pela quebra de protocolos.
O modo de navegação social: a malandragem e o “jeitinho” traz à luz nossa adequação entre prática social e o mundo jurídico. O autor aborda o “jeito” como sendo o modo pacífico e legítimo de resolvermos nossos problemas, de conciliar interesses. A malandragem seria outro modo de efetuar esta navegação social, estando a nossa disposição para utilizarmos quando julgarmos necessária.
No capítulo Os caminhos para Deus o autor aponta a necessidade humana em conversar com Deus. Este diálogo em forma de súplica pode ser individual ou coletivo, seja para legitimar as diferenças sociais, responder perguntas insolúveis, ou na tentativa de domesticar o tempo. Ele aborda nossa característica de misturar diferentes crenças na busca por salvação, na busca por um sentido, na nossa esperança por um mundo melhor e mais justo.

De um modo geral, Roberto da Matta procura, neste livro, descrever um conjunto de características que colaboram na constituição de uma identidade nacional, propondo questionamentos acerca dos indivíduos e suas relações sociais. Busca, em alguns casos, perceber as diferenças históricas que conferem a especificidade da sociedade brasileira perante outras. Faz uso de diversas alegorias para exemplificar sua escrita, entre elas ilustrações, citações, músicas.  Entretanto, o autor não ressalta as diferenças culturais existentes dentro deste grande grupo que ele se propõe a analisar. Ele apresenta uma ideia de identidade nacional que não é compartilhada por todos os brasileiros, a de um Brasil onde se valoriza a religião, o carnaval, a boa comida e mulheres, e não a educação, o conhecimento ou qualquer outro valor que agregue um caráter mais intelectualizado à sociedade brasileira.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Cultura

Abaixo um pequeno texto que escrevi sobre o conceito de CULTURA:

O conceito de cultura é um dos mais conhecidos dentro das ciências humanas e a Antropologia se constitui em torno deste conceito, que, por sua vez, pode ser múltiplo e contraditório.
De forma mais ampla, pode-se definir cultura como todas as realizações materiais e imateriais (de objetos a crenças) de um povo, é o complexo de conhecimentos e habilidades humanas empregadas socialmente. No século XIX, Darwin defendia a teoria evolucionista, afirmando que todas as culturas passavam pelas mesmas etapas ao longo de sua existência, evoluindo da mais primitiva a mais avançada, garantindo ao etnocentrismo um caráter científico.
Franz Boas, no início do século XX critica a visão de Darwin, afirmando que as diferentes culturas se desenvolvem de modo particular e não podem ser analisadas sob a ótica de outra cultura, fazendo uso da História para explicar a diversidade cultural.
Através das minhas leituras não encontrei um conceito único sobre cultura, entretanto em alguns aspectos todas estas visões se igualam, como o fato das diferenças genéticas não determinarem comportamentos culturais.
Também vale pontuar que não é só a Antropologia que busca a definição de cultura. A linguística e a etimologia afirmam que cultura, colonização, culto, vem do latim colo, que significa a ocupação da terra. Logo a cultura é aquilo que se trabalha, o que se cultiva, a transmissão de valores e conhecimentos por gerações. Neste sentido, Alfredo Bosi coloca que cultura é o conjunto de práticas, técnicas, símbolos e valores que devem ser transmitidos às gerações futuras a fim de garantir a convivência social, aproximando-a ao ato de educar.
Em qualquer dessas leituras, a cultura evidencia regras de convivência social, envolvendo o cotidiano. Logo, não há sociedade sem cultura, uma vez que é ela que permite a adaptação do indivíduo no meio social, dando-lhe as ferramentas necessárias para interagir de modo satisfatório.
Os desentendimentos, muitas vezes, provêm de choques culturais, entre poucos indivíduos ou entre sociedades inteiras, e estes encontros provocam transformações em ambas as sociedades. Estas mudanças são possíveis graças às estruturas dinâmicas das culturas, que permitem trocas culturais importantes.

Trabalhar os diferentes conceitos de cultura é uma ferramenta importante contra o preconceito, característico do etnocentrismo, pois permite trabalhar a diversidade estimulando o respeito às diferenças.

Estante de Caixas

Sabe aquelas caixas de frutas, geralmente encontradas jogadas ao lado de mercadinhos?
Pois é... ADORO!!!!
Sempre que meu marido e eu passamos por algum lugar e avisto elas jogadinhas faço ele parar o carro e carrego uma ou duas (as melhores) no porta-malas.
Montei uma estante para livros com elas!!!
Dá trabalho, mas é bem fácil, e vocês podem adaptar para outros usos!!!

Passo-a-passo:
1- Encontrar as caixas;
2- Lixá-las;
3- Dependendo da utilização será necessário reforçá-las com preguinhos (foi o meu caso, pois queria colocar livros nelas);
4- Pintá-las (usei restos de tinta com as quais pintamos paredes em casa);
5- Definir uma diagramação para parafusá-las (pode ser direto na parede, como eu fiz, e pode fixar umas nas outras para uma estante de chão)

As fotos abaixo são das que eu mesma fiz, com a ajuda do maridão para lixar (o serviço mais pesado)...



Tenho estas em uso desde 2012! Agora como o número de livros aumentou coloquei-as no chão.

Ficou com dúvidas? Pergunte que te ajudo!!!

Abraços

Primeira vez...

A primeira vez é sempre marcante...

Não importa qual seja a primeira vez... Em uma escola nova, no sexo, na universidade, como mãe...
Pois bem... esta é minha primeira vez escrevendo em um blog. Talvez as postagens não sejam frequentes, pois estou com bebê pequeno em casa, mas sempre que possível postarei alguma coisa...
Meus principais interesses são por assuntos relacionados à História (minha formação), por fotografia (uma paixão) e família (os meus amores). Talvez, ao longo desta caminhada, poste sobre outros assuntos, links bacanas...
Aceito sugestões de temas!

Abraços