terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Filosofando a escola

Romper Paradigmas?

Abrir mão de conceitos há muito tempo arraigados, fundamentados e aceitos de tal forma que caracterizam nosso modo de viver e de pensar pode gerar uma angústia muitas vezes difícil de ser administrada. Em contrapartida, como são provenientes de gerações, esses conceitos causam uma quebra de paradigmas diante do novo.
Segundo Thomas Kuhn, quando há esse rompimento de paradigmas, há o que se entende como um período caracterizado como crise conceitual até o surgimento de um novo paradigma, sólido o bastante para devolver a segurança perdida.
Tirar as pessoas de um senso comum e inseri-las numa atitude científica é mexer diretamente com conhecimentos e informações previamente concebidos, consolidados como paradigmas, pois se tira, com essa atitude, a base na qual aquela existência está construída e muitas vezes se mostra disposta a uma nova base, dessa vez científica, que não se mostra tão sólida quanto a anterior. Há quem diga que são melhores conceitos científicos, que teoricamente seriam comprovados, do que premissas passíveis de erros por serem estas nascidas de uma experiência concreta. Afinal, trata-se muitas vezes de assuntos que influenciam diretamente a estrutura mental, social e cotidiana dos indivíduos que estão ali inseridos.
Ao mesmo tempo, novas vertentes teóricas pedagógicas propõe que, ao aluno, seja propiciada a experiência concreta. Acredita-se que, assim, a assimilação dessa experiência constituiria na construção do conhecimento. Entretanto, questiona-se, paralelamente, o papel da escola como mera transmissora de conhecimento. Aqui cabe um questionamento: o conhecimento do aluno não parte de uma experiência concreta e, portanto, de um senso comum? Uma vez que a escola não seria mais responsável apenas pela cientificidade os alunos formarão conceitos apenas baseados em suas constatações concretas?
Tendo em vista que a escola pós-moderna não é caracterizada como a detentora e transmissora do saber, mas sim como mediadora da experiência de construção, ela vem ao encontro, também, como uma ferramenta necessária para quebra de paradigmas e preconceitos, articulando as diferentes realidades que contempla, visando uma eficaz inter-relação e tolerância entre elas. Dessa forma, pensamos que seria a escola a grande encarregada desse processo de articulação, tão necessário e de difícil apresentação na sociedade brasileira.
O que não cabe à escola, portanto, é a atitude de tirar de seus alunos suas bases essenciais, suas crenças e valores questionando-os levianamente e não apresentar elementos que possam ser equivalentes àqueles discutidos. Explicamo-nos: cabe ao educador questionar os fundamentos da fé que professa, apresentando ao aluno o relativismo que se vive atualmente e não devolver a ele bases sólidas o bastante para não deixá-lo sem referências humanas? Evidentemente, não se poderia, tão somente, condenar o aluno ao pensamento fundamentalista e sim apresentá-lo também outras correntes teóricas para esse pensamento, outras profissões religiosas existentes e fomentar a capacidade de tolerância com o outro, sem, no entanto, buscar alterar suas certezas. Se isso ocorrer, de forma saudável e consequencial, que seja pelo interesse do aluno e como conclusão de sua capacidade reflexiva.
Por que esse discurso? Sobretudo, por ser, muitas vezes, a ciência contraditória em seus parâmetros e conclusões, lembrando que ela segue a ótica de Kuhn, que sugere a eterna “testificação” de conceitos e certezas científicas. Assim, diante da incerteza que é a definição do mundo em que vivemos e a razão de ser, devemos, enquanto educadores, auxiliar nossos alunos no aprendizado de olhar o mundo com olhos de águia, contemplando o todo, e elaborando os argumentos necessários para sustentar sua existência.

O que é realmente essencial na vida? Enquanto esta resposta não estiver construída tornar-se-ão infrutíferas e vãs quaisquer teorias que se proponham a determinar nossa maneira de chegar a essa essência.


Por Graziela Oliveira e Rodrigo Gustavo Heckler

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