terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Brincando com os teóricos! Piaget Vigotski e Wallon

ENCONTRO DE TEÓRICOS


Na última Feira do Livro, encontraram-se na Praça da Alfândega Piaget Vigotski e Wallon. Assim que se cumprimentaram, comentaram um pouco sobre a feira e logo começaram uma discussão sobre a aprendizagem humana:

Vygotsky – Piaget, tu também trabalha com a questão do aprendizado, correto? Qual a tua teoria a respeito deste assunto?

Piaget – Minha teoria é a Epistemologia Genética, é uma teoria de etapas, que pressupõe que os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis. Nela o processo de conhecimento se dá através da percepção de que o sujeito divide seu mundo em estágios.  Cada novo estágio ocorre, apenas, quando há o equilíbrio, fruto das assimilações e acomodações feitas no estágio anterior. Sendo assim, o conhecimento se dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade.

Vygotsky – Minha teoria, a Histórico-cultural, o sujeito é interativo, uma vez que constitui conhecimento a partir das relações intra e interpessoais. A partir desta teoria, o conhecimento é proveniente das relações. A origem das mudanças que ocorrem no homem, ao longo do seu desenvolvimento, está, segundo meus princípios, na Sociedade, na Cultura e na sua História.
Enfatizo o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, uma vez que a linguagem tem um papel definitivo na organização do raciocínio, pois age decisivamente, reestruturando diversas funções psicológicas, como a atenção, a memória e a formação de conceitos.
Wallon – Sei que não me perguntaram, mas minha teoria é a Gênese da Inteligência, centrada na psicogênese da pessoa completa, na qual o ser humano é organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para se atualizar. Penso no desenvolvimento humano, estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da criança.

Piaget – Para mim, a aprendizagem está subordinada ao desenvolvimento de estruturas cognitivas que, muitas vezes, determina aplicações pedagógicas e didáticas. O conhecimento dos diferentes estágios contribui para o levantamento de objetivos, atividades de ensino e aplicação necessários para o desenvolvimento cognitivo.

Vygotsky – Eu acredito na existência de relações recíprocas entre o desenvolvimento e a aprendizagem, pois a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento, e este, por sua vez, cria novos patamares para a aprendizagem. Assim, o desenvolvimento se expande através das interações sociais, nas quais, por meio da internalização, o indivíduo se apropria do conhecimento, ocorrendo, desta forma, a aprendizagem. Esse processo evidencia a fundamental importância das trocas e aquisições do meio social.

Piaget - A aprendizagem depende do estágio de desenvolvimento atingido pelo sujeito.

Wallon – Concordo contigo, Piaget, e complemento afirmando que a passagem dos estágios de desenvolvimento não se dá linearmente, por ampliação, mas por reformulação, instalando-se no momento da passagem de uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da criança

Vygotsky - A aprendizagem favorece o desenvolvimento das funções mentais. Embora concorde que a aprendizagem ocorre muito antes da chegada da criança à escola, atribuo um valor significativo à aprendizagem escolar, que produz algo fundamentalmente novo no desenvolvimento da criança.
E como se dá a construção do conhecimento segundo tua teoria?

Wallon – O processo de aprendizagem é dialético, ou seja, não é adequado postular verdades absolutas, mas, sim, revitalizar direções e possibilidades.

Piaget – Sou da opinião de que o conhecimento se dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade.

Vygotsky - Esse mesmo sujeito não só age sobre a realidade, mas também interage com ela, construindo seus conhecimentos a partir das relações intra e interpessoais. E é somente com a troca com outros sujeitos e consigo próprio que os conhecimentos são internalizados, assim como papéis e funções sociais.

Piaget – Acredito que o sujeito se utiliza de dois processos na construção do conhecimento, eles são a assimilação e a acomodação, que nada mais são do que a ação de moldar novas informações para encaixar nos esquemas existentes e sua mudança pela alteração de antigas formas de pensar ou agir. Dessa forma alcança o estágio que costumo chamar de equilibração, que nada mais é do que a tendência para manter as estruturas cognitivas em equilíbrio.

Vygotsky – Quer dizer que o indivíduo constrói a compreensão do mundo, o conhecimento sozinho? Sou da opinião que a aprendizagem na criança pode ocorrer através do jogo, da brincadeira, da instrução formal ou do trabalho entre um aprendiz e outro mais experiente. O processo básico pelo qual isto ocorre é a mediação (a ligação entre duas estruturas, uma social e uma pessoalmente construída, através de instrumentos ou sinais). Quando os signos culturais vão sendo internalizados pelo sujeito é quando adquirimos a capacidade de uma ordem de pensamento mais elevada.

Wallon – O desenvolvimento da criança me parece descontínuo, marcado por contradições e conflitos, sendo o resultado da maturação e das condições ambientais, provocando alterações qualitativas no seu comportamento em geral.
A criança é essencialmente emocional e gradualmente vai constituindo-se em um ser sócio-cognitivo. Antes do surgimento da linguagem falada, elas se comunicam e constituem-se como sujeitos com significado, através da ação e interpretação do meio entre humanos, construindo suas próprias emoções, que é seu primeiro sistema de comunicação expressiva.

Vygotsky – E quais são teus principais objetivos com esta pesquisa?

Piaget - Meu principal interesse era estudar o desenvolvimento das estruturas lógicas!

Vygotsky – Já eu pretendia entender a relação do pensamento com a linguagem e suas implicações no processo de desenvolvimento intelectual.

Wallon - Proponho o estudo da pessoa completa, tanto em relação a seu caráter cognitivo quanto ao caráter afetivo e motor. Para mim, a cognição é importante, mas não mais importante que a afetividade ou a motricidade.


A conversa entre os três teóricos prosseguiu. Caminharam até a Casa de Cultura Mário Quintana, onde, em meio a muitos cafés, concluíram que, apesar dos diferentes posicionamentos teóricos, todos enfatizam a necessidade de compreensão da gênese dos processos cognitivos. Concordaram na não-consideração dos processos psicológicos como resultados estáticos que se expressam em medidas quantitativas, valorizando, sim, a interação do indivíduo com o ambiente e percebendo o indivíduo como sujeito que atua no processo de seu próprio desenvolvimento.

Por Graziela Oliveira e Rodrigo Gustavo Heckler

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