terça-feira, 24 de março de 2015
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
Pesquisar: sim ou não?
Ao trabalhar conteúdos de História em sala de aula, há a preocupação de não tornar as aulas “maçantes” ou, na pior das hipóteses, tendenciosas. Sendo assim, as atuais abordagens buscam redefinir métodos de ensino-aprendizagem de modo a vincular o ensino com a pesquisa em História.
Seria então o caminho para tornar os conteúdos mais interessantes e menos tediosos aos alunos carregar as aulas de novas tecnologias, ou coloca-los em contato direto com fontes de pesquisa, a fim de que eles desenvolvam, apenas com o auxílio do professor, seus conhecimentos?
O texto de Mariza Guerra de Andrade no aponta como uma possibilidade de construção do conhecimento em sala de aula a pesquisa, assim como o documentário apresentado por Pedro Demo. Ambos concordam com o fato de que ao pesquisar e elaborar dá ao aluno a autonomia necessária no processo ensino-aprendizagem, favorecendo a argumentação, a fundamentação teórica, o trabalho em equipe e o entendimento para as questões referentes à autoria.
Pesquisar História não significa, necessariamente, debruçar-se sobre incontáveis livros ou documentos carregados de poeira. Novas fontes são hoje aceitas com a mesma confiabilidade que são tratados documentos ditos como “oficiais”. Enquadram-se nestas novas fontes as fotografias, pinturas, esculturas, mapas, plantas, vídeos, músicas... Uma infinidade de diferentes materiais que contribuem para o entendimento da História, bem como para o desenvolvimento do diálogo, de um espírito crítico e questionador acerca das fontes. Andrade afirma que é através dos documentos que professores e alunos repensem “suas questões com vistas a reconstituí-las ou até construí-las de maneira inovadora.” Proporcionando, dessa forma, como ela mesma assegura, “a produção de um conhecimento significativo”.
Pedro Demo nos apresenta quais devem ser os papéis desempenhados em sala de aula ao se trabalhar com pesquisa, cabendo ao aluno o pesquisar e elaborar, enquanto ao professor, orientar e avaliar. Afirma também que este tipo de atividade colabora para melhorar o aprendizado, principalmente se colocado como atividade, como iniciativa apara os alunos.
As leituras nos permitem perceber a necessidade de tornar este processo de ensino-aprendizagem estimulante às crianças e adolescentes. Entretanto, só somos estimulados com aquilo que nos agrada, que nos prende a atenção. Sendo assim, devemos propor aos alunos, de forma criativa e inovadora, que pesquisem sobre temáticas que lhes interessam, sem, contudo, desviar-nos dos programas curriculares.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
Filosofando a escola
Romper
Paradigmas?
Abrir mão de conceitos há
muito tempo arraigados, fundamentados e aceitos de tal forma que caracterizam
nosso modo de viver e de pensar pode gerar uma angústia muitas vezes difícil de
ser administrada. Em contrapartida, como são provenientes de gerações, esses
conceitos causam uma quebra de paradigmas diante do novo.
Segundo Thomas Kuhn, quando
há esse rompimento de paradigmas, há o que se entende como um período caracterizado
como crise conceitual até o surgimento de um novo paradigma, sólido o bastante
para devolver a segurança perdida.
Tirar as pessoas de um senso
comum e inseri-las numa atitude científica é mexer diretamente com
conhecimentos e informações previamente concebidos, consolidados como
paradigmas, pois se tira, com essa atitude, a base na qual aquela existência
está construída e muitas vezes se mostra disposta a uma nova base, dessa vez
científica, que não se mostra tão sólida quanto a anterior. Há quem diga que são
melhores conceitos científicos, que teoricamente seriam comprovados, do que
premissas passíveis de erros por serem estas nascidas de uma experiência concreta.
Afinal, trata-se muitas vezes de assuntos que influenciam diretamente a
estrutura mental, social e cotidiana dos indivíduos que estão ali inseridos.
Ao mesmo tempo, novas
vertentes teóricas pedagógicas propõe que, ao aluno, seja propiciada a experiência
concreta. Acredita-se que, assim, a assimilação dessa experiência constituiria
na construção do conhecimento. Entretanto, questiona-se, paralelamente, o papel
da escola como mera transmissora de conhecimento. Aqui cabe um questionamento:
o conhecimento do aluno não parte de uma experiência concreta e, portanto, de
um senso comum? Uma vez que a escola não seria mais responsável apenas pela
cientificidade os alunos formarão conceitos apenas baseados em suas
constatações concretas?
Tendo em vista que a escola
pós-moderna não é caracterizada como a detentora e transmissora do saber, mas
sim como mediadora da experiência de construção, ela vem ao encontro, também,
como uma ferramenta necessária para quebra de paradigmas e preconceitos,
articulando as diferentes realidades que contempla, visando uma eficaz
inter-relação e tolerância entre elas. Dessa forma, pensamos que seria a escola
a grande encarregada desse processo de articulação, tão necessário e de difícil
apresentação na sociedade brasileira.
O que não cabe à escola,
portanto, é a atitude de tirar de seus alunos suas bases essenciais, suas
crenças e valores questionando-os levianamente e não apresentar elementos que
possam ser equivalentes àqueles discutidos. Explicamo-nos: cabe ao educador
questionar os fundamentos da fé que professa, apresentando ao aluno o
relativismo que se vive atualmente e não devolver a ele bases sólidas o
bastante para não deixá-lo sem referências humanas? Evidentemente, não se
poderia, tão somente, condenar o aluno ao pensamento fundamentalista e sim apresentá-lo
também outras correntes teóricas para esse pensamento, outras profissões
religiosas existentes e fomentar a capacidade de tolerância com o outro, sem,
no entanto, buscar alterar suas certezas. Se isso ocorrer, de forma saudável e
consequencial, que seja pelo interesse do aluno e como conclusão de sua
capacidade reflexiva.
Por que esse discurso?
Sobretudo, por ser, muitas vezes, a ciência contraditória em seus parâmetros e
conclusões, lembrando que ela segue a ótica de Kuhn, que sugere a eterna
“testificação” de conceitos e certezas científicas. Assim, diante da incerteza
que é a definição do mundo em que vivemos e a razão de ser, devemos, enquanto
educadores, auxiliar nossos alunos no aprendizado de olhar o mundo com olhos de
águia, contemplando o todo, e elaborando os argumentos necessários para
sustentar sua existência.
O que é realmente essencial
na vida? Enquanto esta resposta não estiver construída tornar-se-ão
infrutíferas e vãs quaisquer teorias que se proponham a determinar nossa
maneira de chegar a essa essência.
Por Graziela Oliveira e Rodrigo Gustavo Heckler
Por Graziela Oliveira e Rodrigo Gustavo Heckler
Brincando com os teóricos! Piaget Vigotski e Wallon
ENCONTRO
DE TEÓRICOS
Na última Feira do Livro,
encontraram-se na Praça da Alfândega Piaget Vigotski e Wallon. Assim que se
cumprimentaram, comentaram um pouco sobre a feira e logo começaram uma
discussão sobre a aprendizagem humana:
Vygotsky – Piaget, tu também
trabalha com a questão do aprendizado, correto? Qual a tua teoria a respeito
deste assunto?
Piaget – Minha teoria é a Epistemologia
Genética, é uma teoria de etapas, que pressupõe que os seres humanos passam por
uma série de mudanças ordenadas e previsíveis. Nela o
processo de conhecimento se dá através da percepção de que o sujeito divide seu
mundo em estágios. Cada novo estágio
ocorre, apenas, quando há o equilíbrio, fruto das assimilações e acomodações
feitas no estágio anterior. Sendo assim, o conhecimento se dá a partir da ação
do sujeito sobre a realidade.
Vygotsky – Minha teoria, a
Histórico-cultural, o sujeito é interativo, uma vez que constitui conhecimento
a partir das relações intra e interpessoais. A partir desta teoria, o
conhecimento é proveniente das relações. A origem das mudanças que ocorrem no
homem, ao longo do seu desenvolvimento, está, segundo meus princípios, na
Sociedade, na Cultura e na sua História.
Enfatizo o papel da
linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, uma vez que a linguagem tem
um papel definitivo na organização do raciocínio, pois age decisivamente,
reestruturando diversas funções psicológicas, como a atenção, a memória e a
formação de conceitos.
Wallon – Sei que não me perguntaram, mas minha
teoria é a Gênese da Inteligência, centrada na psicogênese da pessoa completa,
na qual o ser humano é organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a
intervenção da cultura para se atualizar. Penso no desenvolvimento humano,
estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da criança.
Piaget – Para mim, a
aprendizagem está subordinada ao desenvolvimento de estruturas cognitivas que,
muitas vezes, determina aplicações pedagógicas e didáticas. O conhecimento dos diferentes
estágios contribui para o levantamento de objetivos, atividades de ensino e
aplicação necessários para o desenvolvimento cognitivo.
Vygotsky – Eu acredito na
existência de relações recíprocas entre o desenvolvimento e a aprendizagem,
pois a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento, e este, por sua vez, cria
novos patamares para a aprendizagem. Assim, o desenvolvimento se expande
através das interações sociais, nas quais, por meio da internalização, o
indivíduo se apropria do conhecimento, ocorrendo, desta forma, a aprendizagem.
Esse processo evidencia a fundamental importância das trocas e aquisições do
meio social.
Piaget - A aprendizagem
depende do estágio de desenvolvimento atingido pelo sujeito.
Wallon – Concordo contigo, Piaget, e complemento
afirmando que a passagem dos estágios de desenvolvimento não
se dá linearmente, por ampliação, mas por reformulação, instalando-se no
momento da passagem de uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da
criança
Vygotsky - A aprendizagem
favorece o desenvolvimento das funções mentais. Embora concorde que a
aprendizagem ocorre muito antes da chegada da criança à escola, atribuo um
valor significativo à aprendizagem escolar, que produz algo fundamentalmente
novo no desenvolvimento da criança.
E como se dá a construção do
conhecimento segundo tua teoria?
Wallon – O processo de aprendizagem é
dialético, ou seja, não é adequado postular verdades absolutas, mas, sim,
revitalizar direções e possibilidades.
Piaget – Sou da opinião de que
o conhecimento se dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade.
Vygotsky - Esse mesmo
sujeito não só age sobre a realidade, mas também interage com ela, construindo
seus conhecimentos a partir das relações intra e interpessoais. E é somente com
a troca com outros sujeitos e consigo próprio que os conhecimentos são
internalizados, assim como papéis e funções sociais.
Piaget – Acredito que o
sujeito se utiliza de dois processos na construção do conhecimento, eles são a
assimilação e a acomodação, que nada mais são do que a ação de moldar novas
informações para encaixar nos esquemas existentes e sua mudança pela alteração
de antigas formas de pensar ou agir. Dessa forma alcança o estágio que costumo
chamar de equilibração, que nada mais
é do que a tendência para manter as estruturas cognitivas em equilíbrio.
Vygotsky – Quer dizer que o
indivíduo constrói a compreensão do mundo, o conhecimento sozinho? Sou da
opinião que a aprendizagem na criança pode ocorrer através do jogo, da
brincadeira, da instrução formal ou do trabalho entre um aprendiz e outro mais
experiente. O processo básico pelo qual isto ocorre é a mediação (a ligação
entre duas estruturas, uma social e uma pessoalmente construída, através de
instrumentos ou sinais). Quando os signos culturais vão sendo internalizados
pelo sujeito é quando adquirimos a capacidade de uma ordem de pensamento mais
elevada.
Wallon – O desenvolvimento da criança me parece
descontínuo, marcado por contradições e conflitos, sendo o resultado da
maturação e das condições ambientais, provocando alterações qualitativas no seu
comportamento em geral.
A criança é essencialmente
emocional e gradualmente vai constituindo-se em um ser sócio-cognitivo. Antes
do surgimento da linguagem falada, elas se comunicam e constituem-se como
sujeitos com significado, através da ação e interpretação do meio entre
humanos, construindo suas próprias emoções, que é seu primeiro sistema de
comunicação expressiva.
Vygotsky – E quais são teus
principais objetivos com esta pesquisa?
Piaget - Meu principal
interesse era estudar o desenvolvimento das estruturas lógicas!
Vygotsky – Já eu pretendia
entender a relação do pensamento com a linguagem e suas implicações no processo
de desenvolvimento intelectual.
Wallon - Proponho o estudo
da pessoa completa, tanto em relação a seu caráter cognitivo quanto ao caráter
afetivo e motor. Para mim, a cognição é importante, mas não mais importante que
a afetividade ou a motricidade.
A conversa entre os três
teóricos prosseguiu. Caminharam até a Casa de Cultura Mário Quintana, onde, em
meio a muitos cafés, concluíram que, apesar dos diferentes posicionamentos
teóricos, todos enfatizam a necessidade de compreensão da gênese dos processos
cognitivos. Concordaram na não-consideração dos processos psicológicos como
resultados estáticos que se expressam em medidas quantitativas, valorizando,
sim, a interação do indivíduo com o ambiente e percebendo o indivíduo como
sujeito que atua no processo de seu próprio desenvolvimento.
Por Graziela Oliveira e Rodrigo Gustavo Heckler
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
HISTÓRIA E ANTROPOLOGIA - Por uma História mais social
A partir da década de 1970,
a historiografia passou por diversas renovações, momento que ficou conhecido
como “virada antropológica”, na qual se aproximam duas áreas do conhecimento, a
história e a antropologia. Este caráter interdisciplinar permanece impresso na
produção historiográfica contemporânea, cujas temáticas se ampliaram frente a
novos objetos e métodos.
Entretanto esta
interdisciplinaridade não é assim tão nova. Alguns historiadores do século
XVIII e XIX, entre eles d’Aussy, já se preocupavam em fazer uma história mais
social, voltada para o cotidiano, para as mentalidades, com abordagens
culturais, se opondo à história elitista, voltada para grandes feitos,
característica da Escola Metódica. Michelet busca, na história alimentar, da
sensibilidade, do comportamento, outras explicações às sociedades, ou seja, uma
visão etnológica. Jacques Le Goff afirma que "Lucien Febvre ontem, um Fernand Braudel hoje, que
primeiro viram em Michelet o pai da história nova, da história total que quer
abarcar o passado em toda a sua totalidade, desde a cultura material até às mentalidades"[1].
Enquanto isso, Legrand é definido por André Burguière[2]
como alguém além de seu tempo, já que para ele a história era “uma mistura
constante de comportamentos herdados (portanto de permanências) e de fenômenos
de adaptação ou de invenção”.
Graças a este movimento de
revisitar as temáticas culturais, intensificado pela Escola dos Annales, que os
historiadores puderam refletir acerca de objetos pertencentes, até então, às
pesquisas antropológicas. Surgida na França, em 1929, para contrariar o modelo
de história produzida - que
reduzia o campo histórico ao político -, a
Escola dos Annales divide-se em três gerações: na primeira geração destacam-se
seus fundadores, Lucien Febvre e Marc
Bloch, provavelmente inspirados nos trabalhos de Michelet e Legrand; a segunda pode ser representada por Fernand Braudel;
enquanto a treceira é integrada por nomes como Georges Duby e Jacques Le Goff.
É preciso levar em consideração o contexto político e econômico do século
XX, no qual são desenvolvidas estas novas temáticas, pois os regimes
totalitários na América Latina e as lutas de independência na África exigiam um
novo olhar. Busca-se, então, conceitos, referenciais teóricos, que
possibilitassem o entendimento de realidade sociais desvanecidas até então. A
história alia-se a outros ramos das ciências sociais e humanas, no intuito de
reformular o conhecimento histórico. Estabelece um denso diálogo com a
antropologia, da qual antropólogos como Pierre Bourdieu e Michel de Certeau, irão
influenciar muito trabalhos de historiadores. Temas como o medo, o corpo, a
morte, a loucura, o clima, a feminilidade, entre outros, são objetos de estudo
desse novo historiador, que vê nos aspectos da vida humana uma nova dimensão,
ou seja, a perspectiva cultural.
As duas disciplinas possuem semelhanças evidentes, pois ambas estudam sociedades
que não existem mais, que são outras, pois já se transformaram, e são, obrigatoriamente,
aquelas nas quais não vivemos. Sobre isso, Lévi-Strauss afirma: "o comum é
que são sistemas de representação que em seu conjunto diferem de seu
investigador” [3].
Seus objetos de estudo, pessoas no tempo
versus pessoas no espaço; seus objetivos, o diverso; nos métodos, pesquisa em
arquivos por um lado, pesquisa participante, por outro; ambas buscam a melhor
compreensão do homem e suas especificidades, porém, "enquanto a história
organiza seus dados em relação às expressões conscientes, a etnologia indaga
sobre as relações inconscientes da vida social” [4].
O fato é que diferenças foram sendo construídas com o intuito de estabelecer o
limite entre as disciplinas, assim como de criar uma identidade particular a
cada uma delas.
M. Mauss aponta que História e Antropologia ampliam o conhecimento, que,
por sua vez, concretiza nossa própria transformação. Dito isso, podemos
perceber que os estudos dialogam com as culturas anteriores, preservando uma
dinâmica cultural, na qual a produção acerca de um objeto, inserido em um
determinado contexto, retraduz modelos culturais anteriores.
Ainda falta, porém, uma definição do que é História e qual seu campo de
estudo. A preocupação desta disciplina é descrever, analisar e interpretar as
transformações nas sociedades humanas ao longo do tempo, construindo uma
dialética entre passado e presente. A relexão exigida pelo seu campo de ação
leva a uma consciência crítica desenvolvida. Enquanto ciência é também metodo e
ação coletiva na constituição do conhecimento, ampliando observações
conscientes acerca dos locais sociais nos quais se insere como indivíduo ou em
grupo. Podemos compreendê-la enquanto percepção das mudanças do tempo,
independente de produzir ou não registros, já que a memória, através da
oralidade, cumpre o papel de preservar
acontecimentos importantes para o grupo social e futuras gerações. Sobre isto,
Dirceu Lindoso discorre:
Todos os povos têm história, mesmo os pré-históricos, porque são os
nossos antepassados. E ter um antepassado é ter uma história. E se ela é
perceptível ou não, isso é outra história. Mas a percepção antropológica da
história deve ser criada [...] Desde que o homem existe, a história existe; só
que para ser criada a história escrita, as sociedades que tiveram que se
dividir em classes, com cujo tempo disponível adveio à escrita. A escrita fixa
a memória da história, mas quem cria a história é a vida social. [5]
Também sobre o registro da História, o historiador Ki-Zerbo, pondera acerca
da construção da História do continente africano, e segue:
Recusamos a teoria que nega a possibilidade de
escrever a História da África Negra, deixando a este continente o direito
apenas de uma etnohistória. Somos por uma história de múltiplas fontes e
polivalente que tome em conta absolutamente todos os vestígios humanos deixados
pelos nossos antepassados. [6]
Graças à Antropologia, a visão de uma História eurocêntrica tem caído por
terra, sofrendo um sistemático processo de desconstrução, delimitado pela
utilização de novas fontes, métodos e posturas na pesquisa.
Quanto à definição de Antropologia, Vagner Gonçalves da Silva explica:
É possível entender a antropologia como uma forma de conhecimento sobre
a diversidade cultural, isto é, a busca de respostas para entendermos o que
somos a partir do espelho fornecido pelo “Outro”; uma maneira de se situar na
fronteira de vários mundos sociais e culturais, abrindo janelas entre eles,
através das quais podemos alargar nossas possibilidades de sentir, agir e
refletir sobre o que, afinal de contas, nos torna seres singulares, humanos. [7]
Podemos concluir, portanto,
que, pela Antropologia estudar a cultura de diversos povos, ela auxilia os
historiadores a compreender determinadas formas de vida e suas transformações,
examina a influência da cultura nos processos históricos e permite reconstruir
determinados períodos através de diversas manifestações culturais. A
Antropologia nos faz perceber que as manifestações culturais procedem das
pessoas, que as realizam seguindo suas emoções, ideais e valores. Os processos
culturais, por sua vez, podem ser considerados documentos vivos da história, já
que é através da cultura que todo o conhecimento humano se manifesta.
O diálogo entre antropologia e
história não significa a perda de identidade do historiador, que tão-somente
utiliza a ciência vizinha para solucionar questões que os métodos da história
não possuem, como a valorização do outro, para compreender sua visão de mundo.
Cabe, portanto, ao historiador trabalhar de forma interdisciplinar, sem,
contudo, perder seu objetivo histórico, ou seja, analisar a história a partir
de uma visão antropológica, exercida através da criticidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIMA, Euges. História e
antropologia - uma aproximação profícua. Julho, 2008. Disponpivel em: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=980
Acessado
em: 21/06/2011.
SANTOS,
Irineia M. Franco dos. História e Antropologia: Relações
Teórico-Metodológicas, Debates sobre os Objetos e os Usos das Fontes de
Pesquisa. Revista Crítica Histórica, Ano I, Número I, Junho 2010. Disponível em: http://sites.google.com/site/revistacriticahistorica/numerozero/artigos-fluxo-contnuo/histria-e-antropologia Acessado em:
21/06/2011
SANTOS,
Márcio Sant’Anna dos. A relação entre a História e a Antropologia – breves
considerações. Fevereiro, 2009. Disponível em: http://www.debatesculturais.com.br/a-relacao-entre-a-historia-e-a-antropologia-breves-consideracoes/ Acessado em: 21/06/2011
SCHWARCZ,
Lilia K. Moritz. História e Etnologia. Lévi-Strauss e os embates em região
de fronteira. Revista de Antropologia, vol.42, n.1-2, São Paulo, 1999.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-77011999000100011&script=sci_arttext Acessado em:
21/06/2011.
______. Sobre uma antropologia da história. Questões De Fronteira, Novos
Estudos, Número 72, Julho 2005.
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